A ascensão das moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs) representa uma das transformações mais profundas no sistema financeiro global. Em apenas cinco anos, a adoção e o desenvolvimento de CBDCs passaram de iniciativas emergentes a estratégias centrais de políticas monetárias. Neste artigo, exploramos as dimensões que impulsionam essa revolução, enfatizando dados, modelos, desafios e perspectivas futuras.
Do incentivo à inclusão financeira em massa à modernização das infraestruturas de pagamento, as CBDCs trazem à tona debates sobre soberania monetária, segurança e interoperabilidade. Vamos examinar como governos e instituições estão moldando esse cenário em constante evolução.
Em 2025, cerca de 134 países ou blocos monetários investigam, desenvolvem ou implementam CBDCs, frente a apenas 35 em 2020. Essa expansão abrange 98% do PIB global, refletindo um interesse quase universal pela tecnologia. Entre as nações do G20, 19 já avançaram para estágios mais maduros, incluindo Brasil, Japão, Índia, Austrália, Rússia e Turquia.
Até o momento, Bahamas, Jamaica e Nigéria lançaram oficialmente versões de varejo de CBDCs e vêm reportando um aumento significativo na adoção. Nas Bahamas e na Nigéria, o foco tem sido a ampliação do alcance doméstico, com programas pilotos que visam favorecer plena implementação de CBDCs e reduzir o uso de dinheiro físico.
As motivações para o desenvolvimento de CBDCs variam conforme o perfil econômico e social de cada país, mas algumas finalidades são recorrentes. Entre elas, destaca-se o esforço para promover digitalização econômica e inclusão financeira, bem como reduzir custos e riscos associados ao dinheiro físico.
A modernização das infraestruturas de pagamento também aparece como pilar estratégico, visando criar sistemas mais seguros, rápidos e resilientes frente a ataques cibernéticos e falhas operacionais.
Os bancos centrais podem escolher entre diferentes arquiteturas para implementar suas moedas digitais. Cada modelo oferece trade-offs entre custo, controle e eficiência operacional.
Adicionalmente, há crescente interesse pela integração de smart contracts em CBDCs, que possibilita funcionalidades como moedas programáveis e execução automática de políticas direcionadas, ampliando a flexibilidade dos instrumentos financeiros.
Evitar a fragmentação entre sistemas de CBDCs é fundamental para garantir eficiência e escalabilidade global. Três abordagens principais surgem nas discussões sobre interoperabilidade: compatibilidade técnica, interconexão de plataformas e criação de um sistema compartilhado único.
No âmbito europeu, o Eurosystem lidera testes com DLT (Distributed Ledger Technology) para integrar soluções de Alemanha, Itália e França, buscando reduzir a complexidade dos 35 sistemas de compensação existentes. Na região Ásia-Pacífico, projetos como Agila (Filipinas), Garuda (Indonésia) e Ensemble (Hong Kong) exploram aplicações para liquidação em tempo real e tokenização de ativos.
O ambicioso projeto transnacional mBridge, envolvendo Hong Kong, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, China e Arábia Saudita, visa viabilizar pagamentos multilaterais em múltiplas moedas via CBDCs e DLT, promovendo sistemas de pagamento resilientes e transparentes.
Embora as vantagens das CBDCs sejam evidentes, países enfrentam barreiras significativas. No campo tecnológico, garantir autonomia sobre servidores e softwares é essencial para proteger a soberania nacional e minimizar a dependência de fornecedores globais.
Em termos regulatórios, definir o papel dos bancos comerciais na distribuição de CBDCs, estabelecer limites de saldo, regras de remuneração e parâmetros de intermediação são pontos críticos para o sucesso dos projetos.
A gestão de dados sensíveis gerados pelas transações digitais também requer atenção. A proteção da privacidade dos usuários, aliada à possibilidade de uso de informações para formulação de políticas públicas, impõe a necessidade de acordos multilaterais e marcos de governança robustos.
As CBDCs apresentam grande potencial para fomentar inovação, aumentar a inclusão e padronizar processos, mas não estão isentas de riscos. A instabilidade cambial, possíveis efeitos sobre a liquidez bancária e desafios de cibersegurança são pontos de cautela enfatizados por organizações como o FMI.
Perspectivas para 2025 e além indicam ritmo crescente de novos programas-piloto, especialmente nos Estados Unidos e na Suécia, com ênfase na interoperabilidade e escalabilidade. A adaptação de normas e a cooperação internacional serão determinantes para a sustentabilidade dessas inovações.
Em conclusão, a evolução das CBDCs no cenário internacional reflete uma busca global por sistemas financeiros mais eficientes, seguros e inclusivos. O caminho à frente requer equilíbrio entre inovação tecnológica, regulação responsável e colaboração entre atores estatais e privados. À medida que mais países avançam nessa jornada, o futuro das transações digitais se consolida como peça-chave para a próxima era da economia global.
Referências