À medida que o Brasil enfrenta uma das mais profundas mudanças em seu sistema tributário, o mercado financeiro observa atentamente cada detalhe das propostas. A reforma tributária promete alterar a dinâmica de negócios e investimentos em todo o país, exigindo que bancos, corretoras e demais instituições revisitem suas estratégias e estruturas operacionais.
Após décadas de discussões, o Congresso Nacional avança em um projeto que visa simplificar e modernizar o sistema fiscal. A base da reforma é a implantação de um modelo de IVA dual, composto pelo Imposto sobre Circulação de Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Serviços (IBS), que substituirá gradualmente o ISS até 2033.
O CBS reunirá PIS e COFINS em um único tributo não cumulativo, permitindo a apropriação limitada de créditos. Já o IBS unificará a tributação sobre serviços, garantindo a possibilidade de créditos tributários — uma mudança significativa em relação ao ISS atual, que não concede esse benefício para instituições financeiras.
Especialistas e entidades de classe apontam diversos efeitos na economia brasileira, reforçando a oportunidade para impulsionar o crescimento econômico.
Com receitas mais estáveis e um sistema simplificado, o país pode atrair mais investimentos estrangeiros, elevando a confiança de agentes internacionais.
O universo financeiro, que responde por grande parcela do PIB, será diretamente impactado por nova lógica tributária específica. A reforma distingue as operações remuneradas por spread — como operações de crédito, câmbio e seguros — daquelas remuneradas por tarifas e comissões.
Enquanto as atividades de spread passam a seguir regras próprias, as operações por comissão permanecem no regime ordinário, embora com exceções relevantes. A ênfase na natureza da operação econômica obriga as instituições a revisarem a classificação de serviços e produtos, um processo que demanda esforço de memória tributária e compliance.
Para cumprir prazos e garantir segurança jurídica, as instituições financeiras precisarão de informações contábeis mais detalhadas. A gestão de sistemas, a reorganização de processos e o treinamento de equipes tornam-se prioridades para evitar erros de classificação e apuração.
Além disso, o processo de regulamentação ainda está em curso. Muitos pontos, como alíquotas específicas, regimes especiais e definições de base de cálculo, dependem de normas complementares. A articulação com órgãos reguladores, Ministério da Economia e setor privado é fundamental para que o modelo final seja viável e sustentável.
Apesar dos desafios, a reforma abre caminho para iniciativas inovadoras. Bancos e fintechs podem explorar novos produtos e serviços que aproveitem os créditos do IBS, reduzindo custos e aumentando a competitividade. Consultorias e escritórios de advocacia tributária terão demanda crescente para orientar operações e transações.
Empresas de tecnologia financeira têm a chance de criar soluções de analytics que traduzam dados complexos em relatórios acessíveis para gestores e tomadores de decisão.
Com a implementação do IVA dual, o Brasil pode se alinhar a práticas internacionais de tributação, atraindo investimentos e aumentando a transparência fiscal. A maior previsibilidade de receita favorece políticas públicas de longo prazo, reduzindo ciclagem de crises fiscais.
O sucesso da reforma dependerá do equilíbrio entre simplificação e equidade, garantindo que pequenos e médios negócios não sejam onerados excessivamente. O papel dos órgãos reguladores e do Legislativo será decisivo para calibrar alíquotas e definir regimes transitórios que mitiguem impactos abruptos.
O mercado financeiro brasileiro está diante de um ponto de inflexão. A reforma tributária traz promessas de modernização, mas também impõe rigorosas demandas de adaptação. Instituições que se prepararem de maneira proativa, adotando tecnologias e fortalecendo governança, estarão melhor posicionadas para aproveitar as novas condições.
Em um cenário de incertezas globais, a capacidade de navegar pelas mudanças fiscais pode se tornar um diferencial competitivo. Mais do que uma tarefa de compliance, a adaptação à reforma tributária representa uma oportunidade única de repensar processos, otimizar custos e impulsionar a inovação no setor financeiro.
Referências