Em um mundo cada vez mais interconectado, as decisões de política monetária nas principais economias reverberam diretamente nos mercados emergentes. A trajetória recente da bolsa brasileira ilustra como a volatilidade internacional pode criar desafios – e oportunidades – para investidores e empresas no Brasil.
O ambiente macroeconômico internacional está marcado por alta dos juros internacionais em resposta a pressões inflacionárias persistentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a elevação das taxas de juros, frequentemente associada a sinais de recessão, tem gerado receios nos investidores estrangeiros e exercido pressão negativa sobre as ações norte-americanas.
Ao mesmo tempo, a imposição de tarifas e a incerteza sobre políticas comerciais nos EUA e na Europa adicionam um grau extra de complexidade. Movimentos protecionistas podem desencadear fugas de capital em larga escala, forçando gestores de portfólio a revisitar suas estratégias de alocação.
No Brasil, o Banco Central adotou um ciclo de elevação da Selic, que atingiu níveis recordes ao final de 2024. Essas medidas foram necessárias para conter a inflação, mas encareceram o custo do crédito e pressionaram diversos setores sensíveis ao financiamento.
O resultado foi uma desvalorização significativa do Ibovespa, que chegou a cair 24% em dólares no ano passado. Setores como bancos, varejo, educação e construtoras sofreram quedas expressivas, refletindo o impacto direto do custo de capital elevado sobre suas margens e investimentos.
No entanto, o início de 2025 trouxe um cenário de reversão. Com a estabilização da inflação e sinais de desaceleração das pressões de preços, o Banco Central sinalizou corte gradual da Selic. Isso levou ao retorno de investidores estrangeiros, que aportaram mais de R$ 21,5 bilhões no mercado de capitais até meados do ano.
Os efeitos dessa reversão foram sentidos de forma imediata. Até maio de 2025, o Ibovespa acumulou alta de 13,92% em reais e 28,67% em dólares. Essa valorização expressiva do Ibovespa mostra como expectativas de juros menores e fluxo de capitais podem impulsionar os preços das ações.
Setores que haviam sido mais penalizados passaram a liderar a recuperação, com destaque para o varejo e a construção civil, que se beneficiaram do menor custo de financiamento e do aumento gradual da confiança do consumidor.
Quando comparado a outras bolsas emergentes, o Ibovespa ocupa a 7ª posição em valorização em dólares no ranking global. Índices como o DAX (Alemanha, +36,34%), a bolsa do Chile (+31,67%) e a da Colômbia (+30,49%) ficaram à frente.
Entretanto, a dinâmica brasileira se distingue pela percepção de que queda dos juros sinaliza saúde da economia, ao contrário dos EUA, onde cortes de juros costumam ser interpretados como indício de fraqueza. Essa diferença de interpretação faz do Brasil um atrativo particular para investidores que buscam rendimentos mais elevados.
Apesar da recuperação da bolsa, o país ainda convive com desafios fiscais. O elevado déficit público e a incerteza em torno de reformas estruturais limitam o potencial de valorização adicional das ações.
Embora a inflação tenha recuado, a projeção de uma Selic em torno de 15% durante boa parte de 2025 reforça a necessidade de cautela. O valuation das empresas brasileiras permanece atrativo, com um P/L médio de 8,2x, mas o cenário de incerteza fiscal requer acompanhamento constante.
Para quem atua no mercado acionário ou está pensando em iniciar uma alocação na bolsa brasileira, este momento oferece lições valiosas:
Além disso, manter disciplina em relação ao horizonte de investimento e ao gerenciamento de risco pode fazer a diferença para aproveitar oportunidades e mitigar perdas em momentos de volatilidade.
O ciclo recente de alta e posterior queda dos juros revela a resiliência da economia brasileira e a capacidade de seu mercado acionário em se adaptar a choques externos. Ainda que a incerteza fiscal e as oscilações internacionais continuem presentes, a combinação de valuation atrativo e expectativa de juros menores cria um ambiente propício para quem tiver disciplina e visão de longo prazo.
Em síntese, compreender as forças globais e domésticas que guiam a bolsa é essencial para investidores que buscam não apenas retorno, mas também segurança em suas aplicações. Ao manter-se informado, diversificar suas posições e respeitar seu perfil de risco, é possível transformar desafios em oportunidades de crescimento.
Referências